quinta-feira, 8 de julho de 2010

...de cara limpa... desabafo de um falso-poeta, falso-eu, falso, ah, vai, você entendeu!!!


...de cara limpa...

entre sois e luas com gotas de estrelas no céu, paro para falar de mim, sem o pó que a poesia usa
para maquear o poeta, ou, com essa onda de a morte do autor lançada por Barthes, e de pensarem que o texto é uma brincadeira de palavras. Gostaria de pensar a vida, a minha vida, gostaria de desabafar e não descarregar sobre ninguém um peso que é meu e que é tão grande que prefiro partilhar com quem lê este blog, abraçar a proposta verdadeira da blogsfera, mas não um diário.
Garanto que muitos já ouviram aquela pergunta muito original: "sabe quando estamos no lugar e nos sentimos sozinhos?", pois bem, sabe? Você anda o mundo conhecendo gente, pensando que é amigo e que, na verdade, são nuvens, umas grandes, outras pequenininhas e você é a planta sendo molhada e aí você descobre que não anda o mundo, o mundo é uma esteira de academia, onde vc anda, anda e não sai do lugar, e quando olha para os lados, ou para cima, não tem regador nem nuvens, mas você cresce. Aí você vê, existem árvores que dão frutos e sombra. Existem as árvores que dão sombra, não frutos. Existem as árvores que matam qualquer outro tipo de planta que pense em nascer por perto - estas são as de nariz empinado - e existem as que nascem para serem arrancadas do chão e virarem móveis, mas quando você não acha sua função, que planta você é? Ultimamente tenho me achado erva-daninha, às vezes até imito outras pessoas para conquistar outras pessoas e aí - inspiro bem forte - descubro que ninguém me quer por perto. Não, não quero ler nos comentários: "excelente texto", pois este é o contrário da auto-ajuda, este texto é redundante, pois trata-se de auto-suicidio (sem mortes). Às vezes tudo roda sem eu mover um pé do chão, às vezes tudo passa sem eu cobrar um tostão e hoje eu tô aqui na frente desse computador escrevendo besteiras que se alguém ler, vai ficar por isso mesmo. Eu disse que era autor lá em cima? Às vezes acho que sou, mas de verdade, não sou nada, ouso citar a mulher que mais idolatro na literatura, Cecília Meireles:

Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

Cecília Meireles

mas mudo apenas um trecho, primeira estrofe:

Eu canto porque sou chato
e a minha vida está incompleta.
Não sou alegre nem sou triste:
muito menos poeta.


Finalizo aqui meu período longo de baboseiras e, espero, nunca mais ter que escrever de cara limpa e deixar Barthes matar este autor(?) para que a imaginação flua nas entrelinhas da poesia do não-poeta aqui.

Anderson Rabelo

Um comentário:

Liala disse...

tá, não vou comentar que o texto está bom ou excelente, mas está desabafado. Sinto-me assim, às vezes, bem eu diria na maioria dessas vezes. Nem vou dar conselho de autoajuda, vou dizer... é a vida. Boa sorte na sua vida de casca... venho tentando sair da minha.