Ele acordou de uma noite longa e difícil. Suas tosses não pararam um minuto sequer. Levantou-se, comeu aquele mesmo pão suado de todas as manhãs que nunca mudara a feição: branco, mole com bastante manteiga tentando substituir o presunto que acabou. Saiu pela única porta do seu pequeno apartamento, ainda ajeitando a gravata, mal dando bom dia ao guarda que toda noite guardava a região. Tomou seu ônibus, chegou ao trabalho, descobriu que a empresa estava em contenção de despesa e o demitiu, saiu atordoado, pegou o telefone e ligou para seus pais, mal havia lembrado que eles haviam morrido há pouco tempo em um acidente no prédio em que moravam devido à falta de manutenção. Andou pela rua, arranjou uns amigos de bar que pagou-lhe as cervejas, ficou bêbado, saiu chamando Jesus de Genésio, eu vi Genésio, Ele não morreu, se curou ao cair numa poça d’água que restara da chuva matinal. Sentou-se ao chão e chorou. Resolveu dar uma guinada na vida, correu para encontrar sua namorada, ao abrir a porta de sua casa, pegou-a com outro. Aquele rapaz, ficou ainda mais atordoado, descobriu-se só. Desceu pelas escadas correndo, esbarrou-se com duas freiras que caminhavam por perto que não tiveram compaixão daquele pobre rapaz e o repreenderam. Ele caminhava sem rumo até cair no chão novamente, só que, dessa vez, sóbrio. Afagou um cãozinho que passava por ali, sujo, que lhe lambera a ferida da mão que cortou na primeira queda e pensou ser aquele bichinho o único que ainda tinha compaixão de sua vida. Lembrou-se que havia guardado uma arma na gaveta de sua escrivaninha velha, resolveu voltar para casa, assim que chegou, pegou a arma, engatilhou, mirou em sua cabeça e click, não haviam balas, pensou em compra-las, mas seu último centavo foi gasto no transporte para seu retorno. Pensou em enforcar-se, mas não suportaria a dor, ele gostaria de ter uma morte instantânea, sem dor, assim, não daria tempo de arrepender-se e ninguém sentiria sua falta. Por falta de dinheiro, restara-lhe apenas um modo de se confortar, deitar em sua cama gelada e chorar até alguém ligar para ele. Quando de repente, o telefone toca.
Anderson Rabelo